quarta-feira, 20 de março de 2019

"Arrascaeta pede passagem, mas adaptá-lo impõe dilemas e escolhas". Por Carlos Eduardo Mansur


Arrascaeta é o líder em assistência para finalização no campeonato carioca. Jogando ao lado de praticamente jogadores que serão terceiras opções no banco de reserva, o uruguaio distribuiu quatro assistências para finalização. 

Sempre com passes de primeira, dando prosseguimento ao jogo com velocidade, ainda forçou o goleiro do Volta Redonda a fazer ótima defesa.

Em artigo em O Globo, o jornalista Carlos Eduardo Mansur abordou questões interessantes sobre esse jogo e a adaptação e dilemas na escalação do uruguaio. 

Confira alguns trechos: 

Arrascaeta claramente fica mais à vontade nos últimos metros de campo, finalizando ou dando o último passe, encontrando soluções numa zona congestionada do campo. Mas, por vezes, usou os minutos que teve em campo em 2019 para eventualmente buscar a bola mais atrás. Ao fazê-lo,  foi eficiente ao auxiliar na organização, ponto ainda carente neste Flamengo cujo elenco é mais farto em homens de frente do que em articuladores de jogo. 
Contra o Volta Redonda, fez tudo isso e, mais adiante, passou de um meia central, posicionado próximo do centroavante, para atuar pelo lado esquerdo. Na posição em que viveu seus melhores momentos na última temporada, jogou igualmente bem. Talvez nesta configuração tenham vindo os melhores momentos do Flamengo na partida, a esta altura já com Diego pelo centro.  
De fato é curioso ver, no futebol doméstico do Brasil, tanto talento no banco. Mas um país onde se joga de mais e se treina de menos, é normal certa relutância para fazer adaptações a um time que partia de um bom funcionamento em 2018. Quais seriam?  
A parte final do jogo com o Volta Redonda parece indicar um time com Diego pelo centro e Arrascaeta partindo do lado esquerdo do ataque. Mas, neste caso, haveria uma questão a resolver. Não é razoável prescindir de Éverton Ribeiro, o grande jogador do Flamengo no momento. Com ele pela direita e Arrascaeta na esquerda, o time teria dois pontas com a mesma característica: a corrida para o centro, na busca do passe ou da finalização com o pé invertido, já que Éverton é um canhoto que parte da direita e Arrascaeta é um destro que parte da esquerda. O time poderia sofrer com certa falta de profundidade. E Abel gosta de ter, ao menos, um ponta incisivo, driblador, por um dos lados.    
(...) 
Arrascaeta ensaiou este papel contra o Volta Redonda, sempre com sua característica de dar sequência rápida às jogadas, em menos toques. Chama atenção como encontra soluções,  parece adaptável à função. Resta saber como seria tê-lo, sistematicamente, com esta tarefa.   
Além disso, Diego tem certa adaptação a este Flamengo que joga no 4-1-4-1, o que por vezes impõe ao meia mais criativo cobrir uma porção maior de campo. Tal função, neste sistema, não é tão habitual para Arrascaeta. Seria o caso de observar sua adaptação ou alterar o time para o 4-2-3-1.    
(...) 
Talvez Abel pudesse ter usado, por mais tempo de partidas contra pequenos, variações para testar a melhor forma de acomodar seus jogadores mais talentosos. Um exemplo foi o teste que fez diante do Volta Redonda, já no fim do jogo e por poucos minutos: Trauco de segundo volante. O peruano foi usado ali por ter bom passe e o objetivo era vê-lo como  iniciador de jogadas. Mas a rotina do Flamengo neste início de ano foi a manutenção de um desenho tático, com poucas experiências. Quando houve trocas na escalação, quase sempre Abel modificou o time inteiro, escalando onze reservas.   
É fato, no entanto, que em breve a sequência de jogos no ano deverá impor a rotação de jogadores e a noção estática de um time titular e outro reserva deverá se diluir. Aos poucos, parece natural que Arrascaeta ocupe seu espaço. Mas o calendário brasileiro é inimigo até da busca de soluções mais inventivas, que reúnam talentos e fujam ao lugar comum.

 A íntegra está aqui.

Um comentário:

Marcel Pereira disse...

Excepcional a leitura do Mansur. Não tinha lido... E finalmente estão pensando numa alternativa que eu ja pensava desde o ano passado: o Trauco de segundo volante pode se alternar com o Renê entre ataque e defesa, colocando uma duvida na marcação adversaria que muito provavelmente abriria espaço na marcação adversaria para Diego e Arrascaeta terem mais liberdade..