sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O Peso da Camisa, por Vitor Boêmio

Sempre foi dito que a camisa do Flamengo é pesada, que não é qualquer jogador que chega e encara a responsabilidade de vestir o manto com um Maraca lotado, colocando toda a pressão do mundo sobre as cabeças de quem enverga o uniforme rubro-negro e pisa no sagrado gramado do “Maior do Mundo” com a responsabilidade de levar o time à frente num grande jogo. Já fomos testemunhas de grandes jogadores que brilharam com outras camisas e sentiram o árduo peso da camisa do Flamengo, como o Alex, hoje maestro do Fenerbache da Turquia, que, na sua chance de brilhar com as cores rubro-negras, sentiu a pressão e sucumbiu a sua força, saindo do clube no ostracismo e sem deixar nenhuma saudade. Outros ditos craques, como Amoroso e até campeões mundiais, como Denílson, também não passaram de meros coadjuvantes quando na Gávea estiveram.

Por outro lado, também sempre se disse que “craque o Flamengo faz em casa”, que os garotos criados na Gávea, e agora no Ninho do Urubu, já chegam ao time principal sabendo como é pressão de se jogar no Flamengo, foram criados e treinados para isso, mesmo ainda jovens, já não sentem tanto o peso da camisa e já são preparados para enfrentar a maior torcida do mundo seja na alegria ou na dor. Ibson é um bom exemplo disso. Cria da Gávea, foi um dos principais responsáveis pela subida do time no campeonato do ano passado. Jogando na sua posição original, no último jogo, voltou a brilhar e mostrou que pode render tudo que sabe novamente, levando o Flamengo ao, ainda possível, sonhado título, ou, na pior das hipóteses, uma terceira vaga seguida na Libertadores.

Mais eis que surge, pra complicar toda essa história, um garoto chamado Éverton. Nascido no Mato Grosso e revelado no Paraná Clube. Com apenas dezenove anos ele chegou á Gávea sem muito alarde, apenas mais um dos nove contratados do Flamengo para a reta final desse Brasileirão, sem a moral do seu então ex-companheiro de clube, Josiel, que chegou com a banca de ter sido o artilheiro do último campeonato, ou mesmo o prestígio dos gringos, sempre tão comentados pela mídia esportiva. No currículo a queda para a segunda divisão na última temporada e mais nada. Na sua estréia, nada mais que um Fla-Flu com casa cheia, e o que vimos foi uma grande exibição, mostrando que, pelo menos pra ele, a camisa não pesou nada mais que os seus gramas originais, garantindo, apenas com um jogo, a vaga de titular no competitivo meio campo do Caio Jr.

Éverton não é “prata da casa” e não chegou dizendo que era “Flamengo desde criancinha”, com um jeito quieto mostrou que, quando a bola rola, se transforma num guerreiro. Conquistou a galera com o seu futebol de velocidade e técnica, virou o “elo de ligação”, que tanto precisávamos, entre o meio campo e o ataque, fez mais em um jogo que muitos medalhões que já surgiram pela Gávea. Demonstrou qualidades como, honra, vontade e caráter, mostrou também que essas qualidades não são moldadas em escolinhas e não surgem com o status adquirido, mas que elas vêm de berço. Éverton já conquistou a exigente Nação, os mais comentados que briguem pelas outras vagas.

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