sábado, 16 de novembro de 2013

"O meu time", por Matheus Meyohas


Ah, o Flamengo... Sou suspeito para falar. De fato, de todos os dias dos quais me lembro, em nenhum eu não fui flamenguista. Em alguns eu quis esquecer disso, é bem verdade. Como na derrota pro Santo André ou na vergonha contra o América-MEX. Mas a história de um clube nunca é construída só por glórias. Os desastres são fundamentais na formação de uma identidade com o time. Não é pequeno quem cai, e sim o que nunca se levanta - mas isso é papo para outro dia.

Nasci ouvindo falar numa equipe que conquistou o mundo. Aos 8 anos, era interrogado todo domingo na casa de minha vó se sabia o nome dos 11 que ganharam o planeta pela única vez no Rio. E eu metodicamente me esquecia daquele tal ponta-direita (desculpe-me, Tita, mas era bem mais fácil emendar o nome do Lico com o de Zico). Conhecer o Flamengo de 81 e de tantas outras épocas foi um prazer que eu comecei a ter a partir da voz de meu pai. “E esse Cantareli, pai, era bom?”. E ele respondia, sem superestimar ou idealizar, me ajudando a considerá-lo fonte principal para a minha pesquisa: “Mais ou menos, filho, era meio frangueiro”. E assim, aos poucos, fui começando a entender o que era aquilo que mexia tanto comigo.

Surgido de um outro time, o Flamengo nasceu destinado à história. Nasceu ganhando um coirmão como rival, e um clássico que a fonética e a bola eternizaram. (O Fla-Flu é um ponto único na história do futebol. Não dá pra falar de um sem falar do outro, e isso só os engrandece). Em mais de 115 anos de vida, glórias não faltaram ao rubro-negro. Conquistou o país diversas vezes, cansou de colecionar tricampeonatos cariocas, venceu a América e o mundo. Além disso, proporcionou momentos que vivem em nossas mentes até hoje, em que o lúdico se misturou com a realidade, como nos gols de Petkovic, Rondinelli e Nunes. Cenas que me fazem ter saudade de algo que não presenciei.

O Flamengo compõe o cenário carioca. Não dá para falar no Rio de Janeiro sem citar o rubro-negro das massas, o Maracanã lotado, mesmo que essa imagem esteja um pouco distorcida nos dias de hoje. O Maraca já não lota sempre, o torcedor que vai ao estádio já não representa a massa em sua totalidade.  Mas o sentimento de quem veste suas cores continua o mesmo.

Um time, sobretudo, popular. Que, no vermelho e preto de sua camisa, carrega as cores de Exu, o orixá mais controverso, mais humano do candomblé, a religião dos morros cariocas. É ele quem tem o poder de falar todas as línguas e concretizar a comunicação entre o orum e o aiê, entre os orixás e os homens. E é uma capacidade de alcance semelhante que faz do Flamengo tão singular. Um time sem classe, sem cor, sem credo definidos. Talvez a única crença comum a todos os flamenguistas seja a certeza de que, independentemente do que aconteça, não poderíamos ter escolhido melhor um time de futebol.

Um comentário:

Marcelo disse...

André, vc tem alguma informação sobre como anda a arrecadação dos projetos da Lei de Incentivo ao Esporte? Será que o clube vai divulgar alguma coisa?