quarta-feira, 2 de abril de 2008

Remo, exemplo de superação: Francisco Carvalho e Pedro Carvalho



Foto: A equipe do Clube de Regatas Flamengo no Campeonato Estadual de Remo na Lagoa Rodrigo de Freitas, em dezembro de 1953. Em pé, como timoneiro, Antenor Barbosa.
Se, hoje, a nação rubro-negra - estimada em cerca de 30 milhões de brasileiros - tem o privilégio de bater no peito e afirmar que o Flamengo foi campeão de terra e mar na temporada passada, agradeça e homenageie os remadores Francisco Carvalho e Pedro Carvalho, que, timoneados por Maurício de Abreu, derrotaram os favoritos vascaínos, no último domingo, na Lagoa, na prova de dois com, que estava sub judice desde setembro passado.

Embora de sobrenome Carvalho, Francisco e Pedro não são irmãos como Ronaldo e Ricardo, bicampeões pan-americanos de remo no dois-sem, cujos nomes estão inscritos na gloriosa história do Flamengo e do próprio remo brasileiro, mas até parece que são, tal a união dos dois.

Os novos campeões são de origem humilde: o primeiro mora na favela da Rocinha; e, o outro, na comunidade de Rio das Pedras. Ainda emocionados, eles confessaram que jamais imaginaram enfrentar missão tão difícil.

- Quando cruzamos a linha de chegada, nem acreditei. A noite que antecedeu a prova foi daquelas mal dormidas. A todo instante eu acordava, achando que já estava na hora de ir para a garagem do Flamengo - disse Francisco, de 20 anos, o voga do barco (que dá o ritmo de remadas).

Técnico aposta em futuro promissor

Pedro, de 23 anos, viveu também momentos difíceis:

- Só quem passa por isso é que sabe. A gente pensa: se vencermos, o Flamengo conquista o título carioca. Se perdermos…

Realmente, muita responsabilidade para dois iniciantes. O título acendeu o remo rubro-negro.

- A temporada 2008 começa neste domingo. Nosso ambiente agora é outro, graças a esse dois garotos. Fomos campeões e todos se enchem de motivação. Precisamos aproveitar o embalo e pensar ainda mais no futuro - disse o técnico Marcão.

Francisco e Pedro não estão acostumados à fama. A ficha do título ainda não caiu. Quando lhe dizem que os dois entraram para a história do clube, eles não sabem o que isso significa.

Pedro, garçom de um restaurante na Barra, teve que trabalhar normalmente na véspera da decisão porque não tinha como ser liberado, já que um outro funcionário teve que faltar. Ele só lamenta que seus pais não tenham assistido sua vitória:

- Eu queria muito, mas minha mãe teve que levar meu pai ao médico. Vamos comemorar depois.

Já a mãe de Francisco estava muito ansiosa e preferiu ficar em casa.

- Foi melhor assim. Sabendo que ela estaria no estádio de remo, minha ansiedade seria maior. Não poderia decepcioná-la - contou ele.

A vitória do dois-com rubro-negro foi categórica.

- O Vasco saiu na frente e parecia que a prova de dois mil teria apenas 500 metros. Nos 600m, nós encostamos e os ultrapassamos, terminando com diferença muito grande. Uma vitória incontestável - disse o timoneiro.

Uma das coisas mais marcantes desta conquista é a lembrança do técnico Guilherme do Eirado Silva, o Buck, cuja estátua existente na rampa dos barcos e à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas é reverenciada até hoje por todos os remadores.

- O Buck deve estar feliz. Rindo à toa. Esta foi para você, Buck! - afirmou Marcão.


Por Antônio Maria Filho - O Globo

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