Em artigo na Folha de São Paulo desta sexta-feira, o jogador Paulo André, um dos líderes do movimento, revelou que pediu à presidente Dilma para não aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte como está proposta:
"Nas últimas semanas, antes da derrota brasileira, os grandes clubes de futebol fizeram lobby por uma audiência com a presidente Dilma para pedir que o projeto de Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (LRFE) seja aprovado com urgência.
(...)
O Bom Senso se antecipou e, no encontro anterior com a presidente, em maio, fez um apelo: "Não aprove a LRFE do jeito que está. É preciso aproveitar a oportunidade e exigir dos clubes, em contrapartida pelo parcelamento da dívida (dinheiro público), a regulação e a democratização do estatuto da CBF, limitando o mandato dos dirigentes a quatro anos com apenas uma recondução, dando voz e direito de voto aos atletas, treinadores, árbitros e demais clubes filiados à entidade. Essa diversidade permitirá abordar todas as dimensões e interesses do futebol brasileiro".
É uma vistão distorcida e completamente míope. A aprovação da LRFE não encerra a discussão de democratizar a CBF, pelo contrário, força a profissionalização dos clubes, obriga-os a cumprir o pagamento mensal com o governo e ainda manter em dia os impostos correntes apresentado as Certidões Negativas de Débito, sendo até passível de rebaixamento o clube devedor de salário. Os dirigentes também não podem antecipar receitas que ultrapassem o limite do seu mandato, sendo responsáveis pessoalmente pelos prejuízos que causarem às instituições e têm seus mandatos limitados. Em suma, tornam os clubes independentes das Confederações e Federações, mais fortes e oxigenados financeiramente e administrativamente, e podem, portanto, cobrar destas que cumpram as mesmas regras rígidas e duras a que são obrigados. Ou formar sua Liga, independente da CBF.
Exatamente como disse Pedro Trengrouse, professor da FGV, em comissão sobre o assunto em Brasília:
"Nós vivemos hoje um momento de CBF rica e clubes pobres, de federações ricas e clubes pobres. No Rio de Janeiro, agora, no campeonato estadual, nos 120 jogos da primeira fase, os clubes tiveram um prejuízo acumulado de 500 mil reais, enquanto a federação arrecadou, nesses mesmos jogos em que os clubes tiveram prejuízo, 800 mil reais. Para a federação foi lucrativo, mas para os clubes não foi.
Então, Deputado Otávio Leite, é preciso que todos estejam no mesmo barco. Se as certidões negativas de débito são importantes para a participação dos clubes nas competições e se a verificação dessas certidões deve se dar pelas federações e pela CBF, que estas sejam responsáveis solidariamente pelas dívidas que agora ajudam a controlar e ajudar a pagar. Mesmo porque, o dinheiro do futebol brasileiro hoje vem se concentrando nessas entidades e não nos clubes. E, se estamos todos no mesmo barco, que tenhamos todos a mesma responsabilidade. Eu quero ver se daqui para a frente nós vamos ter federação dizendo que o problema de gestão é só dos clubes, quando, na verdade, nós fazemos parte do mesmo sistema, e eles são tão responsáveis quanto os clubes. "
O tom da coluna de Paulo André demonizando os clubes é bem ruim. Ele simplesmente coloca a conta de todos os males causados pela CBF ao futebol nas costas dos clubes, que estão sendo literalmente chantageados: ou nós ajudam a pegar a CBF ou a Lei de Responsabilidade não será aprovada e vocês vão continuar com o pires na mão. Ficou feio.
Paulo André afirma ainda que "o projeto é frágil ao tentar garantir que os clubes estejam realmente em dia com suas obrigações fiscais e, principalmente, trabalhistas". Está equivocado. Os clubes precisam manter suas obrigações fiscais correntes em dia apresentado as Certidões Negativas; assim como precisam manter os salários em dia de atletas e funcionários. Onde está a fragilidade da lei?
Do projeto atual do deputado Otávio Leite, se aprovado nestes termos, já será um enorme avanço para o futebol brasileiro. O "Bom Senso" está dando um tiro no pé ficando do lado oposto daqueles que pagam altíssimos e cada vez mais valorizados salários. Que tal criar um teto salarial no futebol brasileiro, será que topam?
E o zagueiro encerra de forma patética sua coluna: "Os clubes, a CBF e a bancada da bola estão no ataque. Nosso time conta com você para virar esse jogo". Desculpe, Paulo André - que agora virou o paladino da referência e gestão administrativa, a torcida está com os clubes.