domingo, 4 de janeiro de 2015

PVC: "O novo Flamengo"

Coluna do Paulo Vinicius Coelho deste domingo na Folha de São Paulo. Como já escrevi, você jamais lerá uma análise dessa entre os cronistas cariocas.

Imagina a repercussão no mercado paulista dessa coluna em pleno domingo no principal jornal de São Paulo. Sem comentários:


"Pagando dívidas e com salários em dia, a Gávea virou um bom lugar para se trabalhar no futebol. 

Há dois meses, o agente de jogadores Eduardo Uram fez uma observação importante sobre o futuro dos clubes brasileiros: "Ninguém está prestando atenção, mas daqui a dois anos o Flamengo será muito forte". Sua percepção era de que o rubro-negro está pagando dívidas e salários em dia. Diferentemente de outras épocas --e de outros clubes--, a Gávea virou um bom lugar para se trabalhar. 

A contratação do atacante Marcelo, do Atlético-PR, confirma a teoria. É o melhor negócio do verão. Marcelo era pretendido por todos os grandes clubes do Brasil e confiou no Flamengo. Parece incrível, mas o Flamengo de hoje é bom pagador. 

A outra razão para o Flamengo ser o destino de Marcelo, em vez do São Paulo, do Corinthians ou do Cruzeiro, é a participação do fundo de investimentos Doyen, o mesmo parceiro do Santos para comprar Leandro Damião. A sociedade provocou comparações entre o fiasco santista com Damião e a dívida que restará ao Flamengo se Marcelo não emplacar. 

Há diferenças fundamentais. 

Damião era um jogador em declínio, autor de 38 gols em 2011 e de apenas 13 em 2013. Pelo Santos, foram onze gols em 44 partidas. Marcelo tem 23 anos, pode aprimorar suas finalizações, mas é um jogador em crescimento. 

Se não vender Damião em três anos, o Santos terá de pagar R$ 40 milhões à Doyen. O Flamengo terá de reembolsar R$ 13 milhões ou vender Marcelo. A quem critica a hipótese da venda vale lembrar que seria também o destino provável de qualquer revelação da Gávea, com ou sem sócio. 

Mas a sociedade com a Doyen é um símbolo, por mais extrativista que seja o fundo de investimento do português Nélio Lucas. O Flamengo hoje encontra sócios e atrai jogadores. Está de volta ao mercado. 

A visão dos jogadores e empresários sobre os clubes muda rápido. Logo depois de romper com a MSI, em 2007, o Corinthians não era atraente. No fim de 2008, representava a perspectiva de participar de um projeto vencedor. Ronaldo Fenômeno topou o desafio. 

Hoje, há empresários negociando com o Palmeiras, porque Paulo Nobre paga em dia. O Corinthians segue sendo um destino atraente, mas não tão seguro quanto era há três anos. O São Paulo negocia a compra do atacante Dudu e oferece 30% do contrato à vista. O Corinthians tinha a faca e o queijo na mão, mas não o dinheiro. Seu desejo é pagar a primeira parcela somente em maio. 

Em 2011, quando os clubes negociaram individualmente os contratos de TV e os acordos deixaram Corinthians e Flamengo muito acima dos demais, apostava-se que o clube paulista poderia se tornar hegemônico --o Flamengo sofria com suas dívidas e os outros recebiam muito menos dinheiro de TV.

Quatro anos depois, os empresários, os fundos de investimento e os jogadores sinalizam apostar no contrário.

O Flamengo virou um clube sério"

Um comentário:

Sjulio disse...

Isso é JORNALISTA. Não vive da cultura do caos ou do clique. Isento, atento aos fatos, e portanto, com credibilidade. Considero-o o maior cronista esportivo. Conforme você disse, uma matéria dessas na Folha tem uma repercussão enorme, não só em SP, mas no Brasil inteiro. E não é a primeira vez que ele chama a atenção para os novos rumos que estamos tomando, só que agora com megafone. Parece até mentira que estamos vivendo pra ver alguém tão embasado se referir ao nosso clube como "o novo Flamengo".