"Como nem só de misérias vive o mundo, às vezes se encontram ótimas surpresas em lugares completamente inesperados. Passo sempre em frente ao Flamengo, ali na Lagoa, e tudo o que vejo é o muro vermelho e preto, ótimo fundo para fotos diversas. No outro dia, por insistência das minhas amigas Heliana e Bernadete, mudei a rotina e entrei. Eu conhecia o Flamengo do tempo em que meus filhos eram crianças: o clube sempre foi simpático, mas não podia ser mais caído.
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Pois mudou muito! Achei-o animado e bemcuidado. No terreno lá atrás onde havia um lixão tenebroso, com entulho e despejos de toda sorte, encontrei um viveiro de plantas vistoso, com horta e várias espécies de plantas ornamentais. O Braga, sócio que “assumiu” a área, me contou que a beleza do pequeno horto vai além do que se vê: meninos de comunidades carentes vêm sendo treinados como jardineiros, e alguns já conseguiram emprego fora do clube. No momento, sete garotos que antes faziam malabarismo no sinal estão lá, aprendendo, entre outras coisas, a importância das minhocas: — Nós criamos umas minhocas vermelhas da Califórnia que são um espetáculo — disse o Braga, empolgado, me oferecendo uma rosa perfeita que crescia num pé logo ali. — São alimentadas com restos de comida. Reciclamos tudo.
Luiz Paulo Segond, vice-presidente do chamado Fla-Gávea, acrescentou que, para que se abrisse espaço para as plantas, foram retirados de lá 200 caminhões de lixo. Gostei dele, um engenheiro tranquilo que administra o clube como qualquer bom condomínio deve ser administrado: com a ajuda dos sócios, cada qual na sua especialidade e de acordo com o seu tempo e disponibilidade.
Mais tarde, enquanto tomava um café na Boca Maldita, puxei papo com uma senhora a meu lado. Sandra Valéria, mãe da Barbara Lima, uma beldade de 14 anos vice-campeã brasileira de 100m borboleta, conseguiu fazer uma salinha para que as crianças possam deixar suas mochilas enquanto treinam, e para que as mães possam passar o tempo enquanto esperam pelos filhos.
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Não precisou de muito para isso: apenas um pequeno espaço, meia dúzia de cadeiras, uma televisão. E, ingredientes principais, boa vontade e falta de burocracia. Há muitas idéias brotando por trás do muro que, hoje, olho com mais interesse. Quando os sócios se envolvem com um clube daquele tamanho e encontram estímulo para isso, há motivo para comemorar. Afinal, o que está acontecendo no Flamengo é, no fundo, um belo exercício de cidadania".
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