Quem está acompanhando atentamente o futebol do Flamengo não se surpreendeu com a entrevista do Zé Ricardo hoje ao O Globo. O problema é que ser coerente não quer dizer que esteja certo.
O treinador reconhece, entre tantas coisas, que a saída de bola da equipe precisa melhorar. Ao mesmo tempo que confirma a titularidade absoluta de Márcio Araújo.
Afirma ainda que a partida de Márcio Araújo na quarta-feira foi exemplar. Em que pese ter ficado mais fixo, logo em uma função diferente, o que dizer então da atuação de Cuellar e suas oito roubadas de bola contra nenhuma do seu companheiro?
Lembram que falavam que Cuellar não seria capaz de atuar de primeiro volante porque não tinha velocidade? Entrou, vem jogando nesta posição, atuando bem, logo já arrumaram uma nova função pro Márcio Araújo.
É isso, a grande novidade foi revelada: estão há meses fazendo trabalho especial para Márcio Araújo evoluir na parte ofensiva, para que infiltre mais e melhor.
É espantoso acreditar que um jogador de 33 anos está sendo trabalhado para executar uma tarefa que nunca fez na vida. É imperioso questionar o porquê não executam esse trabalho com o Ronaldo, por exemplo.
Zé Ricardo ainda disse que como Diego e Guerrero não marcam, por isto a presença do Márcio Araújo é necessária. O que é um erro conceitual e fatual.
Conceitual porque a visão do treinador colide com o que diz o futebol moderno. Não existe mais a figura do volante cão de guarda, hoje todos precisam marcar ou serem treinados para marcar.
De fato porque Diego, ao contrário da declaração do Zé Ricardo, marca sim. E ainda, que belo volante de marcação, titular absoluto, que não figura no ranking de desarmes do Brasileiro, não?
Zé ainda tem a visão de que é preciso um volante veloz, pouco se importando se os números e as situações de jogo revelem justamente um jogador fraco na marcação, que corre como barata tonta atrás do oponente.
Em suma, é muita justificativa furada para manter um jogador fraco em uma posição estratégica da equipe. Sempre arrumam um jeito de arrumar função para o Márcio Araújo que ele não sabe executar.
Quem está sendo sacrificado, na verdade, é Diego, que todo jogo precisa voltar para iniciar as jogadas de ataque e morre no segundo tempo.
O mapa de calor do craque Rubro Negro dos últimos jogos tem ficado semelhante a de um volante.
Falta justamente o jogador que faça essa ligação entre Diego e Guerrero. Seria o Conca, mas Zé Ricardo já disse que essa chance é praticamente zero, pela falta de tempo para treinar.
Torcemos por Éverton Ribeiro.
2 comentários:
André, é realmente muito estranho, contra a Chape o Zé Ricardo veio com um papo de que o Cuéllar voltou para o banco porque o Berrío ia estar jogando, e precisava "ocupar um espaço maior" (estranho pois Berrío entre os nossos pontas talvez seja o que melhor recomponha). Aí contra o Bahia, não tinha Berrío e lá estavam Márcio Araújo e William Arão de novo. Arão contra o Bahia infelizmente fez outra péssima partida, aí contra o Santos o Cuéllar voltou, mostrando que aquele historinha de ter deixa-lo no banco por causa do Berrío era pra boi dormir, até porque o ataque santista é bem mais perigoso que o da Chape.
Às vezes eu até achava que o Zé Ricardo realmente acreditava nas justificavas absurdas que dava para a titularidade do Márcio Araújo. Mas quando vai se contradizendo dessa forma, parece que é algum tipo de birra, é um negócio inexplicável. É um tratamento completamente diferenciado: Muralha, Vaz, Pará, Trauco, Arão, Rômulo, Vinicius Jr, Éderson, Mancuello. Todos já foram titulares e após sequências ruins (em alguns casos sequências looongas) foram para o banco. Márcio Araújo é intocável. Comete erros atrás de erros e o técnico não demonstra qualquer hesitação sobre sua titularidade. E não é como se fosse por falta de opção, como no caso do goleiro: temos Rômulo, Cuéllar e a promessa Ronaldo. Mas vem jogo e vai jogo, e o Márcio Araújo continua incontestável, um absurdo.
O problema é que o Zé Ricardo não tem repertório para melhorar o trabalho dele. Dizer que não tem tempo para treinar o Conca no time titular é prova disso. O Flamengo tem um elenco acima da média nacional e ainda não se encaixou por conta deste treinador. Se o Abelão tivesse assumido depois da precoce saída do Muricy o patamar do time seria outro. Todo torcedor rubro-negro (à exceção de poucos que defendem o Zé Ninguém) quer ver a mudança dos volantes e temos no elenco Rômulo/Cuellar/Ronaldo, mas o treinador contraria esta expectativa. Já se foram dez rodadas e a pior sequencia de confrontos vem agora: São Paulo, Vasco, Grêmio, Cruzeiro, Palmeiras, Coritiba, Corinthians, Santos, Vitória. Tirando Coritiba e Vitória, só clássicos.
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