quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

A primeira vez, por Vitor Boêmio

A primeira vez que pisei no Maracanã eu tinha oito anos, estávamos em 1986 e tinha ido ao Maracanãzinho com minha família ver um chatíssimo show da Disney no gelo chamado “Holliday on Ice”. Acabado o show, estávamos em frente ao Maracanã esperando o ônibus de turismo que nos levaria de volta pra casa, percebemos que acontecia um jogo no “Maior do Mundo” e que os portões estavam abertos, como costuma acontecer na segunda etapa da maioria dos jogos. Alguns adultos foram ver qual era o jogo e eu fui atrás com a sede da curiosidade infantil que não costuma morrer nem mesmo quando saciada, ao passar dos túneis que levam a arquibancada dei de frente com o placar eletrônico que anunciava “Flamengo 1 x 0 América” e mostrava que já se passavam dez minutos do segundo tempo.

Acho que nunca mais na minha vida senti uma emoção tão forte quanto à daquele dia, ver aquele imenso estádio cheio, as cores da torcida, a vibração, o verde do gramado, os jogadores e tudo mais que envolve uma partida de futebol que eu só tinha visto pela TV, até então. Foi um verdadeiro divisor de águas na minha vida, até hoje quando vou ao Maracanã, quando passo por um daqueles túneis até a arquibancada, o meu coração bate diferente, naquele dia, aos oito anos, eu tive a certeza de que, independente do rumo que a minha vida tomasse, eu jamais abandonaria o Flamengo.

Com muito custo e aos prantos, acabei sendo obrigado a ir embora sem ver o final do jogo e só ouvi pelo rádio, já dentro do ônibus, o segundo gol do Flamengo, marcado pelo Bebeto, que deram números finais aquela partida. Curiosamente, neste dia também descobri que as rádios transmitiam os jogos de futebol, ou outra paixão que ainda tenho, e foi justamente pelo rádio fui acompanhando o final daquela campanha vitoriosa, quando acabamos ganhando o título em cima do Vasco, campeonato que marcou o retorno de Zico ao Flamengo, aprendi a amar o Flamengo acompanhando a armação do time que venceria o Brasileirão de 1987.

Essa é a maior lembrança que eu tenho da minha infância, o dia em que definitivamente virei Flamengo. Nunca tinha colocado essa história no papel e resolvi fazê-lo porque neste fim de semana teve mais um jogo no Maracanã, o Flamengo decepcionou mais uma vez a sua torcida com um empate após ter o jogo nas mãos, eu estava lá com meu irmão e meu sobrinho de apenas oito anos, apaixonado pelo Flamengo, que nunca tinha pisado em um estádio de futebol. Pra mim foi um dia triste, já para o garoto, ainda que seja o jogo que levará para o resto da vida na memória, o resultado pouco importou.

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