Coluna de Paulo Vinicius Coelho na Folha deste domingo. Confira:
O Maracanã recebeu mais de 500 mil visitas neste ano. Esqueça os jogos. O número inclui somente turistas que visitam o estádio e fazem dele o terceiro ponto turístico do Rio de Janeiro.
Visitar o Maraca numa segunda-feira é surpreendente. Há entre 2.000 e 3.000 visitantes por dia, contraste com o que ocorria até seis anos atrás. Sempre há muita gente querendo conhecer o ex-maior do mundo.
O Maracanã Tour e as cadeiras bem cuidadas são símbolo de que algo melhorou depois que a administração saiu do Estado para a iniciativa privada. Mas a chance de o estádio voltar para o governo durante o ano de 2016 é enorme. Isso em razão do envolvimento da Odebrecht na Operação Lava Jato e da perda de competitividade do consórcio liderado pela construtora, que administra o estádio.
Matérias de Vicente Seda, no GloboEsporte.com, e de Lúcio de Castro, no UOL, tratam como iminente a devolução do Maracanã ao governo. No início do ano, falava-se sobre a possibilidade de nova licitação
É óbvio que o processo de licitação não foi bem feito. Assim como o Stade de France, em Paris, o Maracanã foi entregue a uma construtora –à Odebrecht no Brasil e à Bouygues na França. Tirar a Odebrecht da operação não é ruim. Só que abandonar o modelo privado do Maraca pode ser definitivo contra a possível reestruturação do futebol brasileiro.
Durante décadas, o Brasil comemorou ter o maior estádio do mundo, o Maracanã, o maior estádio particular do planeta, o Morumbi, o segundo maior estádio público, o Mineirão. Por quase um século, o Brasil foi o país dos maiores estádios vazios do mundo, porque lotavam de quatro a cinco vezes por ano apenas –pode olhar as estatísticas.
O gigantismo representava custo para o Estado e para o contribuinte. Seguia-se no Brasil a lógica das grandes ditaduras. Mussolini fez a Itália ter somente estádios públicos e hoje os italianos lamentam ter ficado para trás dos ingleses com seus palcos particulares.
A ditadura franquista permitiu estádios de prefeituras na Espanha, e Hitler construiu o Olímpico de Berlim, para os Jogos Olímpicos de 1936. No Brasil, a maioria dos palcos municipais ou estaduais foi construída na sequência da ditadura de Getúlio Vargas ou nos governos militares.
Estádio precisa lotar em todos os jogos e isso exige uma operação profissional, com parceria com os clubes e seus sócios-torcedores. Não pode significar ingresso caro nem ser populista. Em média, 10% do público entra sem pagar no Maracanã, tanto no velho administrado pelo Estado do Rio, quanto no novo, pelo consórcio que inclui a Odebrecht.
Os novos estádios melhoraram a qualidade do Brasileirão, por cuidarem dos gramados e ajudarem a aumentar a média de público. Mas nenhuma arena tem ainda um modelo de gestão sustentável. O Grêmio está comprando a parte da OAS, o Corinthians precisa vender os naming rights para pagar o financiamento, o Mineirão recebe subsídios, o Palmeiras tem o modelo mais justo, mas sofre com a crise da WTorre.
O Maracanã era o maior estádio do mundo. Não é mais. Agora precisa ser o melhor. O estádio mais bonito, da torcida mais festiva, no país do futebol, na cidade maravilhosa. Tudo isso exige um novo modelo. Nem ser do Estado, nem da Odebrecht. Precisa ser do novo futebol brasileiro. Aquele com que, utopicamente, ainda sonhamos.
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